16 de dez. de 2008

Entardecer

Entardecer,
ver você
enternecer,
por você
e agora,
o que mais
e é o que
foi menos

tudo o que
dissemos
e que jamais
fizemos
além.
O que
podia ser
feito?
A quem
amei
de mais,
a mais...



Sempre sentir demais,
sempre pensar a mais
e ai veio o que jamais
esperei achar, em paz.

Veio então, o meu maior,
fazendo tudo melhor
e era tão sem rancor
e era tanto seu amor.

Que agora não sei dizer,
posso apenas esperar
e quem sabe um dia ver
sua luz até mim chegar.

3 de dez. de 2008

Se amei de mais...

Amei de mais
e agora quero esquecer
por não ser capaz
de me compreender
sofri demais.

Cheguei a pensar
que seria você
que iria escutar
e me entender.

Eu te daria tudo,
o que sou e que seria,
mas você me negou,
fingiu que ouvia.

E agora restei apenas
incapaz e errado,
torto e triste,
um pouco desesperado.

Confesso: nunca fui capaz
de me ver no futuro
ou viver o presente
apenas achei que seria minha paz
e você se fez sem clemência ausente.

Agora sinto muito por mim
por não conseguir dizer
tudo aquilo, em fim,
que não estando comigo
pensei ver em você.

E nesse final que chegou
e que nuca foi o que imaginei
peço desculpas e seu perdão
por ter me permitido te amar
e te perder sem armas ou luta.

Peço perdão pelas lágrimas que derramei
pensando no quão bom teria sido,
perdão por não te ter esquecido
e por ter me magoado.

E agora oro
para que tudo
(Choro, para que nunca)
mais se repita enfim
torto e triste assim
no fim.

Adeus.

1 de dez. de 2008

O Sol e a Lua.

O Sol e a Lua.

Sol:
"Todo dia pergunto à Aurora,
pergunto as Montanhas
e procuro no Mar
onde foi se esconder
a Lua do Céu."

Lua:
"No fim do dia chagada a hora
e antes da próxima Manhã
me pergunto por que amar
alguém não não me vê
a seu lado no Céu."

Sol:
"Às Nuvens amigas,
aos Vales e os Rios,
a todos eu digo
todo que sinto
pela Lua do Céu."

Lua:
"Queria eu, apenas um dia
ter mais alegria e menos frio,
ter o carinho e o afeto.
Mais ainda dizer o que sinto
a seu lado no Céu."

Sol:
"Uma vez, ou outra quem sabe
bem de manhã ou fim de tarde
contar a todos o que já sabem
que o carinho que sinto é
pela Lua do Céu."

Lua:
"O carinho que sinto é de verdade,
por isso digo: deixe-me amar-te.
Seguir a seu lado também
em todo tempo que vier
a seu lado no Céu."

Sol:
"Prova maior que posso dar
de como me pesa te amar
são as lágrimas que derramo
escondido pelas Nuvens.
À Lua do Céu."

Lua:
"Pergunte um dia ao Mar
a tristeza que sinto pesar
as lágrimas que também derramo
e que não se escondem.
A seu lado no Céu."

Sol:
"Sou o Sol e amo a Lua.
A Lua do Céu."

Lua:
"Sou a Lua e amo o Sol.
A seu lado no Céu."

Sol:
"Sinto a dor de tanto amar
e meu amor não poder tocar.
A Lua do Céu."

Lua:
"E essa dor no peito de amar
por tanto desejo de lhe tocar.
A seu lado no Céu."



25 de nov. de 2008

Anjo que vem...

Anjo que vem,
não sabe a quem
deve procurar.

De onde vem
esse alguém
que te faz chorar?

Não há nada além
do que tem
que me contar.

E eu te prometo
que para sempre
irei te ajudar.

Anjo, não espere,
apenas queira,
e eu te prometo
ficar a seu lado
a todo momento
em todo lugar.

Anjo, não chore,
apenas ore,
que eu guardarei
as suas lágrimas
e seu olhar.

20 de nov. de 2008

Água do mar

Água do mar,
amanhã,
no seu olhar,
amanhã.

Suas lágrimas,
minhas dores,
meus amores,
nossas mágoas.

Água da serra,
água do rio
e da lagoa,
todas vieram
do seu olhar.

Água do banho
e de beber,
água gelada
e a ferver.

Água doce
e água salgada
é água do mar
das suas lágrimas.

Espelho d'água,
que me reflete.
Onda do mar,
que vem e me fere.

Sinto a água
do mar,
sinto tanto
te amar...

12 de nov. de 2008

Adeus, de um misantropo.


"'Mãos Dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitec
er, a paisagem vista na janela.

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.'



"Esprit de l'escalier"


Sabe aquelas horas, em que no meio de uma conversa ou discussão você fica mudo. Não sabe o que dizer. Então, depois que a conversa acabou e não a mais nada que possa ser dito. Quando você está descendo as escadas e indo embora. Ai vem à mente uma idéia brilhante, genial, que teria sido perfeita se dita alguns minutos antes. Mas agora é tarde. Não importa o que você faça. A esses momentos os franceses chamam "esprit de l'escalier". "Sagacidade de escadas". Li isso em algum lugar há muito tempo e guardei a informação.
"E se...". O que poderia ter sido? O que poderia ser dito? O imperfeito que se faz presente no passado. Um passado que não se pode mudar, mas que teima, de forma insistente e perturbante em se fazer remoer na mente. Passado. Já foi! Queria que tivesse ido. Agora posso apenas olhar para traz e pensar "E se...". São coisas, entre tantas outras. Coisas que me perturbam, atormentam. Já houve uma época em eu não saberia compreender essas coisas. Há muito tempo. Agora. Já sei. Talvez. Se eu pudesse esquecer! Apagar tudo, tirar as lembranças da minha mente. Talvez tudo voltasse a ser como era antes. Aquelas lembranças. As boas lembranças. O que faço com elas? Deveriam me reconfortar, mas não é o que acontece. Dentro da mente vão indo e vindo, misturadas, turvas. O foco fosco, o traço tosco. Indefinidas. Um amálgama de pensamentos. Pensamentos conflitantes. Distorcidos.

Foi idéia do poeta. Ser gauche. Não é idéia minha. Nunca foi. Agora sou. Não quis, mas sou. Sigo sendo. Indefinido. Tosco. Torto. Quase morto, por uma vez ou duas. Duas na verdade. Espero pela terceira.

"
Esprit de l'escalier". Agora até mesmo a escada já passou. Não volta mais. Posso seguir. Será que quero? Não sei. Apenas sigo. Sigo por enquanto. Assim vou indo. Devagar, sem pressa. Amanhã quem sabe? Será que alguém sabe?
Aeria Gloris". Um tempo melhor poderia vir. Pensamos saber quem são os outros. Na verdade não estamos nem perto de saber que somos! Houve um tempo em que soube. Pensei saber. Posso ter, ser, sentir, continuar. É a única forma que tenho. Que me reconheço. Reconheço os outros. Meu rótulo. Minha personalidade. Como será a volta? Um lugar como outro qualquer. Uma pessoa como outra qualquer. Um tempo qualquer. Já conheci pessoas. Muitas. Fantásticas. Outras nem tanto. Pessoas que me amaram. Que me amam. Que amo. Que amei. Em lugares diferentes. Algumas permanecem por muito tempo. Outras somem depressa. Todas deixam sua marca. Mais profundas. Menos profundas. Cicatrizes. A marca, a ferida que permanece. Aberta por muito tempo dói. Aquela que mais dói. Aquela feita por quem mais sinto falta. Pessoas que pensaram me conhecer. Que pensei que me conheciam. Não. Ninguém. Quase ninguém me conheceu. Me entendeu. Ninguém por inteiro. Ninguém plenamente. Os anos. Passavam devagar. Devagarinho. Aos poucos me mostrando as estações. Me expulsando do ninho. Agora correm. Desenfreados. deembestados. Impiedosos. Levam embora as pessoas, aquelas que amei. Que amo. O que me resta? Tudo o que sempre tive. Nada. Apenas eu. Sozinho. No escuro.
Tantas vezes olhei para o céu a noite. Por horas. Havia apenas as estrelas. As estrelas eu eu. Diamantes brancos no céu. Quase podia toca-las. Como eu quis, tantas vezes. Outras a lua me acompanhava. Sorria para mim por alguns dias. Desdenhosa. Ia seguindo, aos poucos me escondendo as estrelas. Depois elas voltavam. Mais brilhantes. Outras vezes a lua parecia triste. Se escondia atrás das nuvens e levava as estrelas consigo. Nunca ninguém me entendeu. Eu entendia a lua. Ela conhecia meus segredos. Ela e as estrelas. Quantas horas passei desafiando o olho vermelho do touro. Agora já não olho mais para o céu. Outras luzes levaram seu brilho, sua cor. Me deixaram no escuro. ainda mais escuro do que antes. Me escondo nas sombras. Eu poderia voltar. Olhar novamente para as estrelas. Para a lua. Pedir seu perdão. Acho que não posso. Eu escolhi ir embora. Foi uma escolha estranha. Escolhas. Muitas me perturbam. Não me arrependo das escolhas que fiz. Não acho certo me arrepender. Agora. O presente. Tão intangível, escorregadio. Traz o futuro para perto. É mentira não existe futuro. Apenas a esperança, a ideia, a expectativa de futuro. É apenas uma ideia. A ideia de um anjo. Um anjo de asas tortas. Agora. O presente. O prelúdio. O prefácio do passado. Isso é verdade. Mas também é mentira. O passado não existe também. É apenas uma lembrança. Uma sombra indefinida, sem foco. Já aconteceu. Ponto final. "E se...". Apenas uma ideia e uma lembrança. Ambas se misturam. Isso é o presente. Ideia daquele anjo. Maldito anjo.

O presente. As ideias e as lembranças. As estrelas e a lua. As pessoas, que amei e que me amaram. O anjo. Os momentos. Os "E se...".As marcas que todas essas coisas deixaram. É possível senti-las. Elas ditam o meu ritmo. O meu pulso. Meu coração. Basta um toque. Basta por a mão no meu peito para sentir. Todos os dias, naqueles instantes que antecedem o sono. Quando o presente perde todo o significado posso sentir. Ainda mais forte. Sinto as batidas. O ritmo. As lembranças. Tudo aquilo que já foi e o que ainda virá. Tudo o que poderia ter sido. O caminho que poderia ter seguido. O caminho dos barcos. Os sinos.
Agora. Postas no papel. São as palavras. As frases. Tudo o que eu gostaria de dizer. Pensamentos que passam rápido de mais para serem ditos. Pensamentos que se perderiam. Agora, escritos, são eternos. Infinitos. São os últimos que um dia terei.
Adeus.


'A maioria de nós passa a vida inteira poupando felicidade, tão preocupados em não morrer que acabamos por não viver. Passamos a vida como lagartas rastejantes por medo da metamorfose e do desconhecido; e assim apodrecemos sem termos tido um único momento como borboleta. Se tememos a morte é apenas por não termos vivido. Na verdade morrer sem ter vivido é o único pecado que existe.'"

Ass.: L.L.

CONTOS DE ANGARA.

MOR'AL.

"Os magos de Kirah estão sempre a procura de novos aprendizes, para isso sempre existem mensageiros que vagam pela terra em busca de crianças. Quando encontram alguma que tenha os poderes eles entram em sua casa e a levam no meio da noite, deixando em seu lugar um saquinho contendo ouro."
CRÔNICAS DE LAO'S.



Uma figura esguia entrou no grande salão e se dirigiu para o
fundo, conforme ele se aproximava pode perceber, de pé, atraz
do altar, um homem. Ele era alto e magro e seus cabelos eram muito
compridos e prateados como a luz da lua. Vestia era um manto,
totalmente negro, que cobria todo seu corpo.
Tao's se aproximou e ajoelhando-se disse: __Mestre. esta feito.
Mor'al se virou, apesar dos cabelos brancos seu rosto era jovem e imberbe,
muito pálido, seus olhos eram negros e sua expreção
dura, como uma estátua de mármore. Ele olhou para seu aprendiz.
__Teve algum problema?
__Não senhor. Tudo ocorreu como o senhor havia ordenado.
__Ótimo. Logo Rei'el não será mais um incomodo. Pode ir.
Tao's fez uma reverencia e se retirou.
Mor'al se virou novamente e passou a contemplar a grande imagem esculpida em
relevo atraz do altar: dois jovens seguiam por um campo, seguidos por
um exército, marchavam contra uma cidade, ela parecia, mesmo
sendo apenas uma figura transmitir todo o poder de um grande reino,
que já deixara de existir. Com muralhas enormes e cachoeiras que
caiam do seu alto, os seus prédios eram magníficos e o
palácio, no alto de um rochedo, parecia querer tocar o céu.
Sob a imagem havia uma isncrição: "O reino de Gall nunca
morrera". Ao lado desta havia outra imagem. A representação
de um enorme castelo, com diversas torres, tão altas que, de
fato, tocavam o céu e se perdiam entre as nuvens, o castelo
estava no meio de uma grande floresta, próximo a um
grande rio que serpenteava pela planície. A sua inscrição dizia: "O pálacio de Hosas
posel'mi será eterno".
Mor'al olhava para aquelas imagens e sua mente o levava a lugares
distantes, em um tempo que já havia passado.

10 de nov. de 2008

Morrer ao nascer do dia...

O dia nasce em mim, menor,
mas não levanto
até que acorde o sol, maior.
Ouço do galo o canto,
tão cheio de si, sustenido,
sem saber que é maior,
que la está bemol
e eu é que sou menor


sinto o som que vem, sem dó,
que é maior e sustenido
e estou trancado à clave
em um tempo mal dividido.


A cor dos olhos,
a dor dos filhos.
A dor dos olhos aflitos.

Andei por ai,
sem saber
que era aqui.



Vejo meu reflexo em um espelho, fugaz sombra de um instante que há muito passou,
deixou apenas fragmentos de alguém que já foi melhor e agora viaja por estepes e pradarias em busca de retalhos de almas. Retalhos, espalhados ao vento em envelopes de carta.
Viajar sem rumo ou destino, sem agora ou então. Estar sempre a procura do espírito do lobo. O lobo que devorou a carne e despedaçou o espírito, que fugiu, escondendo-se dentro de si mesmo. O lobo que não pode ser encontrado, a não ser junto e do seu próprio lado. Em um mundo mágico, onde a entrada é permitida apenas àqueles que são raros. E resta apenas: "Viver e aprender a rir."

4 de nov. de 2008

Outro dia andava na rua

Outro dia enquanto andava na rua
no centro de uma cidade qualquer
seguia por ai no sol e na chuva

no meio do dia os sinos tocaram
chamando a todos para rezar
pela alma de algum tolo
que aqui não pode ficar

chegou uma criança e me perguntou:
"tio, por que os sinos tocam?"

Os sinos não tocam, eles na verdade choram
por quem quer que tenha ido e falta fará
pois juntos no mundo somos um só
e quando alguém se vai ele fica menor

"os sinos tocam por nós"

A criança já se foi, assim como já fui,
e agora já me vou também.
Sé espero que quando me for
não seja por mim que os sinos toquem.

Obrigado.

1 de nov. de 2008

Se é seu o céu


















O Seu céu, o sangue e o fel.


Se é seu o céu
se se sabe o sabor que tem o fel
sabe-se qual seja o sabor do mel

sendo assim, será o que sempre foi
sendo seu o céu
será lá onde nunca fui
saber o sabor seu.

só sei, sei bem sabido,
o sabor de fel
de se sacrificar
a um amor não correspondido

sendo assim o que vem a seguir será
o que se foi antes
adiante para esperar
que se siga o sangue
que assenti derramar
sentindo seu suor
em meu sangue se misturar
selando minha sina
e sangrando sentado espero
que um dia você me possa amar.


Obrigado.

24 de out. de 2008

por vezes parecia

Muitas vezes...

por muitas vezes parecia
que ia tudo dando errado
andando sempre lado a lado
sem saber o que fazia

mas o tempo passou, foi embora
levou consigo o que eu não tinha
inclemente por todo um dia
e uma noite inteira, até agora

e de longe veio frio o vento
trazendo o velho esquecido
fazendo do que é novo, vivo,
trazendo alívio ao momento

quando chegar de novo a hora
e não for possível adiar
há apenas mais um lugar
de onde se pode ir embora.

em um canto qualquer do mundo

Em um canto qualquer do mundo...

em um canto qualquer do mundo
em um lugar que ninguém sabe
onde os homens não tem medo
e a vida mais nada vale

trancado em quarto escuro
aprisionado da luz do mundo
sem que nada possa ver
nem brilho que emana
do sol no alvorecer
ou a luz que vem da lua
onde todos possam ver

trancado no escuro
foi lá trancado por você

no fundo escuro de uma cela
preso no chão por duras correntes
foi trancado sem dó meu coração
sentindo a presença de quem é ausente.

Em um canto qualquer do mundo
sento espero, cansado e mudo
que um dia venha e eu possa ver
tudo o que antes tentei esconder

que no dia em que finalmente vi
olhei até enxergar que não era ali
lugares onde tempos atrás
por pouco tempo morri e vivi

louco que sou, um tempo esperei
o tempo passou, mais louco fiquei
tinha tanto tempo que tempo desperdicei
agora já nem tento tanto sabendo que fracassei.

Em um canto qualquer do mundo
me aproximo, mas logo me afasto
sigo em frente sempre sentindo
que o sentido perdeu o rastro.

Obrigado.

Antes do sol nascer eu espero

















Antes do sol nascer eu espero
que tudo o que quero possa chegar

e que quando vier, que venha,
mas que venha por inteiro

que a metade já não basta
independente do que haja.

Antes do sol nascer eu espero
esperando posso chegar

aonde o anjo nasce
e o diabo foi morar

lugar onde os olhos não vêm
o que aqui tinha, não tem por lá
Antes do sol nascer...

Antes do sol nascer eu espero
sentado, olhando pro ar

um dia conseguir descobrir
o que seja um bom jeito de amar

antes do sol nascer eu espero
me desespero tentando entender

o que um dia me disse o amor
pouco antes de me esquecer

indo embora levando consigo
o que comigo não pode ficar

me largando no mundo sofrido
sozinho ainda a lhe amar

antes do sol nascer eu espero
que um dia possa voltar

o anjo com meu amor
para devolver meu coração
ao seu devido lugar.

Antes do sol se por eu espero
desejo mais do que acredito

tentar levar a vida a sério
e te levar sempre comigo

entes do sol se por me desespero
lembrando de tudo que não foi dito

Por Deus! Como eu quero
ver o dia nascer bonito!

Levo essas esperanças, escondidas sempre comigo
trancadas no meu peito escuro, gritando gritos aflitos
de um sonho que não foi feito, carrego esse risco...


...


Antes do sol nascer eu espero
sentir todo esse álcool no meu sangue

espero que a fumaça vá embora
que chegue aquela hora

antes do sol nascer eu quero
que essa noite me ilumine

quero que o dia não termine
antes do sol nascer, eu espero.

14 de out. de 2008

O Engraxate.

Ia andando pela rua. Uma caixa de engraxate debaixo do braço. Seguia triste, melancólico, rumo a alguma rua do centro da cidade. Iria trabalhar até anoitecer. Os poucos trocados que recebesse iriam para seu padrasto. Levava dentro da caixa suas ferramentas, dentro da cabeça suas idéias.

Atravessou um terreno baldio. Todo sujo e cheio de mato. No meio dele uma velha lata de pêssegos. Um pontapé bem dado. Agora, o terreno era um estádio imenso, lotado. A torcida vibrava e gritava seu nome. Ele corria driblava um, outro, o goleiro. Chutava e marcava um gol espetacular. Corria, dava cambalhotas enquanto comemorava. Tropeçou. Caiu no chão. Despencou de volta ao terreno baldio. A lata de pêssegos caída amassada, a caixa de engraxate aos eu lado no chão. Levantou, limpou a terra do rosto e continuo seu caminho.

Chegou ao centro. A praça. Os pombos. As pessoas passando. Se aproximou de um homem que lia um jornal, sentado num banco. Pediu para lhe engraxar os sapatos. O homem olhou para ele. Pensou um pouco e aceitou. Ele começou o serviço. Enquanto trabalhava de vez em quando olhava para cima e lia uma noticia no jornal do homem. “Gelo em Marte”; “Homem morre atacado por cachorro”; “Preso suspeito de forjar suicídio da namorada.”; “ Preço do petróleo dispara”. Acabou o serviço. O homem lhe da uma moeda de um real.

Ele senta um pouco. Relembra das notícias que leu no jornal. Viaja. Está em uma nave espacial, Vê um planeta a frente, branco, coberto degelo. Mexe em alguns botões. A nave pousa. Com um traje espacial ele sai. Caminha. Faz uma bola de neve e chuta. Ela vai longe. De repente surgem soldados-cachorros, com armas de raios. Ele corre, se esconde. Saca sua pistola. Acerta um, outro, mais outro. Esta quase vencendo...

Alguém fala com ele. Um velho. Quer engraxar os sapatos. Rapidamente ele volta a realidade. Abre sua caixa e pega a graxa e a escova. Começa. Esse não está lendo nada. Que pena. Acaba o serviço. O velho da dá uma nota rasgada de um real. Dois reais em meia hora. Quem sabe ele não conseguiria o suficiente para comer alguma coisa aquele dia.

...

Fim de tarde. O movimento nas ruas aumenta rapidamente. Diminui rapidamente. As pessoas passam apressadas, indo para suas casa depois de um dia de serviço. Ele também. Guarda suas coisas. Com a caixa debaixo do braço vai embora.

Chega em casa. Não tem ninguém. No fogão um pouco de arroz e feijão, frios. Ele joga um pouco em uma panela. Esquenta. Coloca um pouco de farinha. Pega um copo de água. É sua janta. Depois de algum tempo chega sua mãe. Mais tarde seu padrasto, meio bêbado. Ele lhe entrega o dinheiro daquele dia, pouco mais de dez reais. O homem acha pouco. Diz que ele roubou, gastou o dinheiro com alguma bobagem. Bate nele. A mãe olha. Só isso. Ele vai para o quarto, machucado. Deita na cama dura. Lembra das noticias que leu aquele dia. Da nave espacial. Dorme. Sonha. Amanhã quem sabe, talvez ele consiga um pouco mais.

A Velha Cega.

A chuva cai. Um carro passa. Outro carro passa. Molha alguém na calçada. Ouve-se palavrões. A chuva cai. Sentada perto da janela, uma velha cega ouve o mundo passar. No seu colo um gato manco. Os olhos opacos da velha. Os olhos amarelos do gato.

Passava assim seus dias. Sozinha em casa, apenas o gato por companhia. De manhã sua filha saia. De noite ela voltava. E a velha sentada perto da janela. Lembrando do tempo em que podia ver. Como era bonita aquela rua. A praça logo em frente. Bem cuidada e florida. As ruas limpas. Mas já fazia muito tempo. Agora, como será que estava a rua, a praça? Gostava de sentar no banco da praça e sentir o perfume das flores. Mas tinha medo de sair sozinha. Não havia ninguém para leva-la até lá. Ninguém para fazer companhia a uma velha cega num fim de tarde. Sua filha ocupada. Seus netos longe.

Ela também, já havia sido muito bonita. A mais bela do bairro. Com que todos os rapazes queriam namorar. Faziam serenatas na sua janela. Pediam-na em namoro a seu pai. O pai, um bom homem, dizia que ela escolheria com quem iria se casar. Ela escolheu. Um rapaz diferente dos outros. Quieto, meio tímido. Estudante de direito. Tiveram três filhos. O mais velho era médico e agora morava longe. Ele tinha dois filhos, que nas férias passavam alguns dias com ela. A mais nova era professora. Tinha uma filha que fazia faculdade em outro estado. A filha do meio havia morrido, junto com seu pai, há dez anos, em um acidente de carro. O mesmo que a havia deixado cega.

Um dia, em que seu filho a estava visitando, convenceu seu neto mais velho a acompanha-la até a praça. Depois de algum tempo sentados, em que ela lhe contou histórias de quando era moça, ela entediado disse que tinha que ir a algum lugar e a deixou lá, sozinha, e foi até a banca da jornais olhar as revistas. Ela ficou sentada. O gato no colo. Depois de algum tempo ouviu alguém se aproximando. Pela voz parecia um garoto, entrando na adolescência. Pediu licença e sentou ao lado dela. O garoto parecia simpático. Ela começou a conversar com ele. Ele respondeu, pareceu interessado. Ela contou suas histórias. Ele ouvia. Ouviu muitas. Durante a tarde toda. Quando a velha começou a sentir que esfriava perguntou as horas ao garoto. Era tarde, e seu neto ainda não havia voltado. Ela começou a se assustar. Estava perto de casa, mas não saberia voltar desacompanhada. O garoto pareceu perceber. Perguntou se ela não queria que ele a acompanha-se. Com um pouco de vergonha aceitou. Disse o número de sua casa. Ela a pegou pelo braço, com cuidado, e a conduziu. Tocou a campainha e esperou até que abrissem a porta. Só depois que ela havia entrado e que foi embora. Sua filha perguntou que era aquele garoto. “Ele pareceu tão simpático e educado.” Ela não sabia. Realmente, ela não havia se apresentado. Apenas escutou, com paciência e atenção as histórias de uma velha. Seu neto, quando chegou em casa, tarde da noite, levou uma bronca e um castigo por ter deixado sua avó na praça.

Aquele dia foi um pouco mais feliz para ela. Uma pequena gentileza. Um momento de atenção que um garoto desconhecido havia tido com uma velha cega. Poder contar histórias, relembra-las, revive-las. Dias que haviam sido mais felizes. Para a maioria das pessoas pode parecer pouco, mas quando o que se tem são só as lembranças, poder lembra-las e compartilha-las adquire um valor imenso.

Esperava um dia poder reencontrar aquele garoto. Agradecer-lhe. Saber seu nome.

9 de out. de 2008

O Garoto.

Todo dia era a mesma coisa. Sete horas da manhã. Sua mãe abria a porta do quarto. Dizia: “acorda, já está na hora, você vai se atrasar!” Mas ele já estava acordado. Há muito tempo. Isso quando dormia. Quando não passava a noite inteira em claro, pensando. Pensar, ele fazia muito aquilo. Mais do que a maioria das pessoas que ele conhecia. Ele pensava, se lembrava das coisas, de todas as coisas. Via padrões, ligações. Via coisas que ninguém mais via. Quando era mais novo ele tentava contar aos outros, aos adultos, essas coisas. Ninguém acreditava nele. Era apenas uma criança! O que ele poderia saber que um adulto já não soubesse? Como ele insistia, teimava em achar que estava certo o levaram a um médico. Fizeram muitos exames. O médico descobriu que ele era um gênio, isso foram obrigados a admitir. Muito mais inteligente do que a média da sua idade, na verdade mais inteligente do que a maioria dos adultos, mas isso era mais difícil deles admitirem. Agora, com onze anos, já não contava nada a ninguém. Ia a escola. Sabia que não precisava, tudo o que os professores ensinavam ele já sabia, quase sempre muito melhor do que o professor, mas tentava se comportar como eles esperavam que ele se comportasse. Não fazia nada estranho. Fingia se interessar. As vezes tirava uma nota um pouco menor, só para parecer normal.

Um pouco contrariado ele se levantou. Acendeu o abajur. Se sentou na beirada da cama e ficou olhando para as paredes. Todas cobertas por recortes de jornais, fotos, alguns posters. Reportagens sobre acidentes. Suicídios. Sua mãe não gostava daquelas reportagens falando sobre pessoas mortas, sobre suicidas, mas ele conseguiu convence-la de que não era nada de mais. Disse que queria ser policial, como seu pai. Ela acreditou. Mas havia algo a mais naquelas reportagens, algo que ninguém conseguia enxergar. Um padrão que apenas ele via. Ainda não havia compreendido o porque. Faltava alguma peça. Algo que não aparecia nos jornais. Um detalhe. Ele havia decidido. Iria descobrir.

A mãe voltou. Tornou a chamar. “Já levantei”, ele respondeu. “Ótimo, então vem tomar café ou você vai se atrasar”. Foi. O que mais poderia fazer? Tomou o café. Trocou de roupa. Saiu. Ia andando até a escola, eram apenas dois quarteirões. Sua irmã ia com a mãe para o trabalho, para a creche.

Enquanto andava ia pensando. Tentando ver as os padrões, as conexões que faltavam. Carregava na mochila dois cadernos. Um onde ele fingia anotar a matéria que os professores passavam. O outro, esse era importante para ele. O diário, onde ele anotava todo o que descobria, onde carregava recortes dos casos que pareciam mais importantes, que preenchiam as maiores brechas.

Conforme ia andando para a escola encontrava com alguns colegas de turma. Não tinha amigos. Não sentia que tivesse ou que precisasse realmente de um. Mas a maioria dos colegas gostavam dele, as meninas principalmente. Ficavam dando risinhos e apontando quando ele passava no corredor. Ele não se importava. Se alguém parasse para conversar ele respondia. Poderia pensar e conversar ao mesmo tempo. Para ele era fácil. Apenas duas pessoas, que ele conhecia desde pequeno, que moravam na mesma rua que ele. Um casal de irmãos. Normalmente iam andado juntos para a escola. Conversando. Eram os únicos que sabiam que ele era um gênio. Gostava deles. Até onde ele era capaz de gostar de alguém. Eram os únicos que sabiam, um pouco mais, das coisas que ele pensava. Eram jovens, não tinham tantos preconceitos. Conseguiam entender que ele realmente via as coisas que dizia.

Chegaram no portão da escola faltando cinco minutos para o horário de entrada. Ele foi até a banca de jornal. Os dois irmãos o acompanharam. Comprou um jornal e o folheou. Leu na verdade. Quando chegou no meio do jornal parou. Sorriu. Havia encontrado. Mais uma peça. Uma matéria curta. Uma mulher havia sido encontrada morta, caída em um calçada no centro da cidade. Aparentemente havia pulado do prédio. Havia com ela um envelope, lacrado, endereçado a um homem que não foi identificado. Era aquilo. A peça que faltava.

O sinal bateu. Ele guardou o jornal na mochila e entrou na escola. Os amigos do lado. Haviam achado estranho vê-lo sorrir. Ele quase nunca sorria, não de verdade, não como havia sorrido agora. Ele devia ter encontrado mais alguma peça do seu mistério. Sabiam que não contaria nada, não na escola. Entraram na sala e se sentaram. Logo o professor entrou, deu bom dia aos alunos e começou a passar a matéria no quadro. Seria mais um longo dia.

8 de out. de 2008

A Cidade e o Homem.

Sentado no alto do prédio, dez andares acima da rua, ele olhava as pessoas que passavam. Pessoas estranhas. Lá de cima pareciam formigas. Trabalhando. Trafegando sem por que. Sem motivos. Quantas daquelas pessoas poderiam reparar em um homem sentado no alto de um prédio. Ele pensava nessas coisas. Em muitas outras também. Ele se parecia com um homem. Mas sabia que não era um. Quantos homens estariam naquele lugar. Se ele quisesse poderia pular. Cair lá do alto. Provavelmente daria muito trabalho a algumas daquelas pessoas que passavam pela rua. Um policial que teria que fazer a ocorrência. Um médico ou qualquer outro que fosse chamado para tentar salva-lo. Tarefa inútil, ele pensava. Daquela altura seria inútil. O pessoal da limpeza urbana. Será que eles teriam que limpar o seu sangue do chão. Suas tripas. Seu cérebro. Pelo menos ele achava que tinha um, embora as vezes sem muita certeza. Poderia viver sem um? Ele pensava. Provavelmente não. Não viver de verdade. Andar por ai. Fazer amigos. Conversar. Não que ele fizesse essas coisas, mas pensava nelas. Poderia faze-las se quisesse, ele pensava.

Pular. Melhor não. Hoje não. Quem sabe um dia. Era uma dúvida que o atormentava. Será que teria coragem de pular? Talvez. Quem sabe um dia, mas não hoje. Melhor não, pensou.

Lá do alto via o horizonte da cidade, acinzentado, turvo. Diferente daquele que ele via há muitos anos, quando morava no campo. Lá também via o mundo do alto, sozinho. Mas lá era diferente. Do alto do morro mais alto. Não haviam pessoas, não tantas, passando. Uma vaca ou um cavalo. Ele via o rio que ia pra longe. Afluía até outro. Esse outro por acaso passava por aquela cidade. Será que eram as mesmas águas. Águas onde ele tomava banho quando criança. Provavelmente não. Lá, na cidade, as águas do rio não eram claras, transparentes. Não haviam peixes naquela rio. Ele nunca havia visto ninguém pescando. O horizonte. Tão diferente. No campo ele via tão longe. As montanhas, as serras. Tinham um tom azul, era estranho aquele azul. Vez ou outra um avião passava. Na cidade era a todo momento, grandes barulhentos, ele pensava. Passava a tarde pensando, sentado no alto do prédio. Vendo a cidade, as rua, os cruzamentos. As vezes um acidente. Um ladrão que roubava uma bolsa e saia correndo. Ninguém parava para ajudar e o ladrão fugia. Depois de muito tempo aparecia um policial.

Ele lá em cima. Ninguém o via, ninguém tinha tempo de olhar pra cima. Todos tão apressados, ele pensava. Mas ele olhava para cima, mesmo já estando tão alto ainda havia o que olhar. No fim da tarde, quando o movimento das ruas diminuía e o sol ia se pondo ele olhava para cima. Via as estrela. Ele gostava do olhar para elas, mas lá, na cidade elas eram diferentes. Não tinham foco. No campo, como era bonito olhar para o céu. Na cidade haviam muitas luzes, elas espantavam as estrelas.

Uma vez ele ouviu dizer que uma moeda de dez centavos, que se ela caísse de muito alto, e acertasse a cabeça de alguém, a pessoa morreria. Uma vida por dez centavos. Coisas estranha. Uma vez ele jogou uma moeda. Ninguém morreu. Melhor assim, pensou. Apenas ficou dez centavos mais pobre.

Sentado lá em cima passava horas. Sozinho. Não se importava. Até gostava. Não sentia fome, e se sentisse poderia descer e comer algo. Não sentia frio. Se sentisse poderia buscar um casaco, mas não sentia essas coisas. Apenas ficava lá sentado. As vezes se imaginava como uma gárgula, daquelas que ele via no livros, que ficavam no alto das igrejas. Duras, de pedra. Mas ele não era de pedra, pelo menos pensava que não. Apenas os pássaros lhe faziam companhia, mesmo assim apenas de vez em quando. Ele não tinha muito a oferecer a um pássaro. Não tinha milho, pipoca ou qualquer outra coisa que um pássaro pudesse querer.

Passava assim suas tardes. Quase todas. Ficava feliz em poder sentar no alto de seu prédio e ver as pessoas passando. Formigas. Ficava pensando, lembrando, planejando. Nem sempre havia sido daquele jeito. Já tinha tido amigos, pessoas com quem conversar. Já havia amado. Um dia, ele não sabia, não entendia, ela foi embora. Sem razão, sem motivo. Apenas foi. Alguns dias depois ele soube. Ela estava morta. foi achada, jogada no chão. Havia pulado de um prédio. Do décimo andar ele soube. Leu no jornal. Com ele havia uma carta, endereçada à ele. Um dia apareceu um policial na sua porta, lhe entregou a carta. O senhor não vai ler? O policial perguntou. Não. Respondeu. O guarda foi embora, um pouco contrariado. Ele nunca leu a carta. A levava sempre consigo, mas nunca a leu. Nunca abriu o envelope.

Sentado no alto do prédio ele pensava. A carta guardada no bolso. Hoje não. E melhor não, ele pensava.

A Festa.


















“Obrigada”. É uma palavra estranha para se dizer antes de morrer. Pelo menos acho que é. Posso estar errado. É estranho. Aconteceu a tanto tempo. Parece que foi ontem. Quando me chamaram para aquela festa eu não quis ir. Foi um amigo meu. Era amigo do dono da festa. Ele ia sozinho, mas me encontrou na rua e me chamou. Foi em cima da hora. Quase não fui. Por preguiça mesmo. Ele insistiu. Eu fui.

Cheguei lá. Não conhecia ninguém. Já havia visto um ou outro na faculdade. Nunca tinha conversado com ninguém. Meu amigo, cara estranho. Chegamos e ele começo a beber. Eu bebi também. Pouco. Ele ia direto, um como atrás do outro. Várias bebidas diferentes. Em pouco tempo estava caído no sofá. Fiquei encostado num canto. Vendo a festa, os outros conversando. Pareciam se divertir. Riam, bebiam, fumavam, conversavam. Eu encostado num canto. Um lata de cerveja na mão. Uma boa companhia.

Não lembro a hora. Parecia que estava lá a dias. Já estava pensando em largar meu amigo lá, jogado no sofá e ir embora. De repente eu reparei. Do outro lado da sala. Linda! Uma blusa de alça, preta. Calça xadrez. Allstar. O cabelo chanel, encaracolado. Os olhos castanhos. Linda! Fiquei olhando para ela. Por muito tempo. Não sei se ela percebeu. Eu me virei. Olhei pela janela. Pensei: Vou até lá? Olhei para o lugar onde ela estava. Já não estava mais lá. Que pena, pensei. Decidi ir embora. Me virei. Ela estava lá. Do meu lado. Parada. Falou comigo. Sorriu. Conversamos. Depois de algum tempo fomos para a varanda. Ela me beijou! Um beijo bom, gostoso, suave. Sentia o cheiro dela. Por algum motivo, não sei qual, me inebriava. Me deixava tonto. Era perfeito. Os lábios dela. Os meus. Juntos. O corpo dela junto ao meu. Abraçados. Um abraço apertado. Gostoso. Ficamos assim por muito tempo.

Na sala o movimento ia diminuindo. Alguns foram embora. Outros caiam bêbados. Companhia ao meu amigo. Já era tarde. Muito tarde. Olhei para o céu la da varanda. Vi o touro. Em pouco tempo ia amanhecer. Paramos de nos beijar. Conversamos um pouco. Nos beijamos mais. Ficamos assim por algum tempo.

Ela colocou alguma coisa no meu bolso. Um pedaço de papel. Um bilhete. Perguntei o que era. Ela disse que nada, apenas um poema. Pediu que eu o lesse depois. Concordei. Me pediu para buscar um copo de bebida. Fui. Quando comecei a me afastar ela pegou o meu braço. Me beijo forte. Por muito tempo. Se afastou. Disse: “Obrigada.” Apenas isso. Tornou a pedir a bebida. Fui buscar. Quando cheguei na sala ouvi um barulho. Assustador. Olhei para a varanda. Ela não estava la. Ouvi o alarme de um carro na rua. Corri até a sacada. Lá no chão. Dezoito andares abaixo. Ela. Linda! Morta!

É algo estranho de se dizer antes de morrer: “obrigada”. O bilhete. Eu guardo comigo até hoje. Ainda não o li. Guardo a lembrança daquela noite. Uma noite estranha. Passei poucas horas com ela. Não sei explicar o por que. Sinto saudades. Muitas vezes, a noite, penso nela. Nas coisas que conversamos. No cheiro. No beijo. Quando vou a uma festa. Coisa rara agora. Me encosto num canto e fico lembrando. Olhando. procurando por ela. Sei que é inútil. Quem sabe um dia. Talvez eu possa entender o que aconteceu naquela noite. Talvez ela fosse um anjo. Um anjo de asas tortas, que não conseguiu voar...

9 de set. de 2008

O Novo Nome do Rei

"Podemos pensar que sabemos quem os outros são, mas na verdade não estamos nem perto de saber quem somos."
Antigo provérbio de L'aos.


De volta outra vez.

A noite havia coberto os campos com seu manto enquanto o pequeno grupo de guerreiros seguia para casa depois da batalha. Montados no dorso de Asfer cada um pensava no que poderia acontecer agora que a batalha parecia finalmente ter chegado ao seu fim definitivo.
Ephi, que apesar de todo o cansaço do fardo enorme que havia tido que carregar, até aquele momento havia conseguido manter seu espírito tranquilo, naquele momento porém, enquanto cortavam os ares de volta pra suas casas, que haviam abandonado a tanto tempo, sentiu finalmente toda a dor das perdas que havia sofrido. A morte de seu melhor amigo, da mulher que amava e do homem que havia sido seu guia e mentor. Apenas Asfer permanecia com ele. Tinha, agora na volta, novos companheiros, mas sentado sobre o pescoço do dragão, sentindo o frio vento da noite da planície em seu rosto teve o coração tomado pela mais intensa dor. Dali em diante estaria para sempre sozinho. Havia finalmente entendido as palavras finais de Marc'nael e pode entender o que ele havia sofrido durante todos aqueles séculos.



"Ao cair, cuide para ainda ter forças para se levantar e continuar a lutar; a verdadeira gloria não está na vitória, mas no valor do guerreiro derrubado."
Antigo provérbio de Kirah.


Ephi'Go Lat'uada já não vivia mais. Agora, sentado no trono de Tarek estava Ephi'No A'nael. E esse era o novo nome do rei. Assim, para sempre agora poderia haver a paz. Seu protetor havia voltado e nunca mais partiria.
Já não era mais o pequeno domador de dragões, mas o ultimo homem que um dia veria o sol antes que os Deuses voltassem e mais uma vez a história pudesse recomeçar.

...

9 de mai. de 2008

O Velho Rei de Garah

O sol nascia na planície. Um homem caminhava pela estrada, tinha os cabelos e barba longos, usava um chapéu pontudo e um manto grosso, de cor cinza; carregava uma sacola de couro. Sua expressão era triste e cansada. Aquele homem era na verdade o ultimo do homens imortais, e seguia em sua busca pela paz e redenção.

Há muitos séculos houve uma guerra, que foi travada pela ambição de um homem, nela muitos lutaram e morreram, mas poucos realmente sabiam o porque lutavam. Dois homens sabiam, irmãos pela criação e pela amizade lutaram lado a lado e venceram juntos muitas batalhas, um era príncipie por direito, o outro um campesino, foram unidos pelo destino e realizaram muitos feitos grandiosos, mas houve um momento em que a morte se aproximou deles.

A guerra teve início quando o líder dos homens que conheciam a magia se tornou ambicioso e maligno, e quis tomar para si um poder ao qual não tinha direito, formou um grande exercito, com as mais diversas criaturas e com os mais terríveis sacrilégios e marchou sobre os reinos do sul, destruindo e devastando tudo o que encontrava em seu caminho, até que chegou ao reino cujo herdeiro de direito havia sido esquecido. Lá os homens resistiram, e, liderados pelo rei que não sabiam ser seu, causaram danos e derrotas ao terrível exército. As batalhas eram terríveis e sangrentas, mas no meio delas sempre estava o rei desconhecido e seu irmão, e lutavam com bravura e coragem, derrotando todos que encontravam e levando ânimo a seus exércitos, por vezes pareciam invencíveis e se dizia que vendo os dois lutando juntos era como se fossem um. Mas chegou um momento decisivo, em que sua bravura e coragem não foram suficientes, quando a guerra já havia praticamente terminado e o exercito invasor havia sido destruído eles se viram frente a frente com o terrível mestre das artes mágicas, lutaram bravamente, mas não adiantou; eles caíram e o grande mestre estava prestes a matar o verdadeiro rei com sua terrível lamina quando seu irmão se pôs entre ele e a espada, sendo ferido mortalmente, esse ato, de grande devoção deu ao irmão o poder para derrotar seu inimigo, pegou a espada, que estava fincada no coração e seu irmão e com ela feriu mortalmente o mestre.

O ato de infinita coragem de seu irmão lhe salvou a vida, mas não apenas isso, lhe deu a imortalidade. O dom da vida eterna só pode ser dado pelo sacrifício de uma outra vida e ao salvar a vida de seu irmão as custas de sua própria ele lhe concedeu esse dom.

Quando a guerra acabou e a paz se assentou nos reino ele assumiu seu trono de direito, se casou e teve filhos, mas o tempo passou e ele nada sofreu com sua passagem, mas seu coração se cansava e um dia ele abandonou seu reino, deixando o para seu neto, vagou por muitos lugares enquanto os anos, os séculos e as eras se passaram, sem que ele, contudo, passasse e encontrasse um fim. Viu a casa de seus descendentes ser destruída e um mal maior surgir e cada vez mais seu coração ficava triste, cansado e sem esperança. Um dia contudo, enquanto caminhava pela planície encontrou um homem cego, que se arrastava pelo caminho, teve peno do homem, o colocou em seus ombros e o levou até a vila. Quando lá chegaram o homem agradeceu: "obrigado, velho rei de Garah", espantado que aquele cego pudesse saber que ele era perguntou: "Como é possível que saibas quem sou. Deves ser algum espírito ou Gral que me vem atormentar a existência, pois afasta te de mim maldito", o homem respondeu: "Acalme-se velho rei, não venho lhe atormentar, a muitos anos perdi a visão das coisas desse mundo, mas fui compensado com a visão de muitas outras coisas, do passado e do futuro, sei quem você é, e o tormento que sofreu por toda uma era e sei como terminar com esse tormento. Escute bem, o dom que recebeu o acompanhara para sempre até que possa devolver a vida que lhe foi dada aquele que lhe deu, você deverá devolve-la aquele que será o portador do espírito de seu irmão, e que esta destinado a lutar por esse mundo, assim como vocês lutaram há muito tempo, ele poderá salvar o mundo, mas apenas se você poder salva-lo, se você falhar o mundo ira perecer e você continuara a viver, sozinho, como o ultimo dos homens para sempre. Lembre se, apenas assim você estará livre."

O cego se levantou e entrou nos portões da vila, enquanto o velho rei ficou parado, pensando e uma pequena fagulha de esperança se ascendeu em seu coração. Então ele decidiu parar de vagar pelo mundo e entrou também na vila, se tornando um dos maioires domadores de Anri'noar...

7 de mai. de 2008

O Reino de Tarek

Há muito tempo nas terras de tareke as sombras da morte caíram sobre os reinos de prata. quando das festas de casamento dos príncipes katren e farkai todos os Reis e os nobres e os sacerdotes enviaram presentes aos noivos. Mor'al, o líder dos magos de Kirah, invejoso do poder de Reie'l, pai de katren, conseguiu ele também enviar um presente a tarek, os antigos tesouros amaldiçoados da rainha merah.

Entre os presentes enviados por Mor'al estava o anel de Nigel, que corrompe o espírito de seu portador e amaldiçoando todos que vivem ao seu redor.

Junto com os presentes Mor'al enviou também Tao's, seu servo, que se infiltrou entre os convidados e conseguiu trocar o anel da aliança pelo anel maldito, que seria usado por Katren.

Quando Katren colocou o anel seu coração puro foi amaldiçoado e se tornou negro como os poços da morte, e a noite caiu sobre Tarek, por sete dias o sol não brilhou nas terras altas, no oitavo dia chegou o frio vento do sul e com ele o granizo. As plantas morreram e os animais selvagem começaram a atacar as plantações e os rebanhos. O rei chamou todos os sacerdotes do reino e pediu ajuda aos reinos vizinhos mas ninguém soube explicar o que estava acontecendo, nem os sacerdotes e nem os monges, sabiam apenas que havia sido jogada uma maldição terrível sobre Tarek. Os mercadores, quando souberam da maldição pararam de viajar até lá e os poucos que se arriscavam passaram a ser atacados pelo caminho, que antes era seguro, pois a miséria havia atingido os camponeses e esses passaram a roubar e a pilhar para conseguir comida, mas logo ninguém mais se arriscava a ir até lá, e os reinos vizinhos bloquearam as fronteiras para que os salteadores não invadissem seus reinos .

Reie'l orava todos os dias aos céus, mas tudo o que os céus lhe enviavam era mais gelo e tempestades.

Kerei, que sem saber era a causa de todas as desgraças, no entanto, não se importava com nada do que acontecia ao seu redor, e apenas ostentava os tesouros que havia recebido; muitas vezes saia em liteiras pelas ruas e quando algum aldeão tentava lhe falar, pedindo ajuda, ela, que antes ouvia a todos, mandava enxota-lo. Enquanto isso Farkai cumpria suas obrigações de príncipe e tentava ajudar o sogro, mas nada do eles faziam, nem seus sacrifícios nem suas preces, tinham o menor resultado.

Depois de uma estação a praga chegou, primeiro os animais selvagens caiam mortos nos campos e nas montanhas, e alguns caíram nos rios e quando os animais domésticos foram beber água também ficaram doentes, os camponeses sem ter mais com o que se alimentar comeram a carne dos animais doentes e também caíram.

Já não era possível comer os frutos do campo que apodreciam ainda no pé , aqueles que tentavam caiam doentes mal davam a primeira mordida e a água se tornou negra e pestilenta por todo o reino e quem a bebia caia ao lado da fonte. Então começaram as mortes. Primeiro as crianças recem nascidas e logo depois os irmãos mais velhos e os pais tiveram que enterrar seu filhos e logo não tinham mais forças e caiam sobre os túmulos de seus filhos e muitos túmulos ficaram abertos com os corpos dos pais sobre os dos filhos e em pouco tempo não havia quem enterrasse os mortos que caiam por toda a parte.

E a peste atingiu a corte e primeiro os empregados do palácio caiam pelos corredores, e o rei já não saia mais de seu trono e seus sacerdotes ficavam ao seu lado entoando cantigos que não adiantavam nada. Farkai ficava ou lado da porta do quarto de Katren, que era a única que não parecia se importar com o que acontecia ao redor, e nem ser afetada, pois continuava saudável.

Na noite da última lua cheia do quarto mês, Maroo, o mais antigo sacerdote do reino, e o único que ainda estava vivo teve uma visão, ele viu Kerei envolta em um véu negro, com todos caídos ao seu redor e uma lua vermelha no céu. Ele acordou assustado e só então compreendeu o que havia acontecido. Saiu correndo até a sala do rei, rezando para que não fosse tarde de mais, mas lá chegando encontrou o rei morto e Farkai caído aos seu pés, e agora ele era o ultimo homem vivo em todo o reino, mas ele sabia que ainda havia alguém vivo, e se ele ainda tivesse forças talvez fosse possível salvar o reino. Ele foi até o quarto da princesa e bateu a porta, que estava trancado. Lá de dentro a princesa perguntou: __Quem se atreve a me perturbar?__

__Sou Maroo grande princesa, precisamos de sua ajuda, seu pai caiu morto pela peste e é preciso que se façam os ritos dos mortos.__respondeu Maroo. Mas a princesa não lhe deu resposta.

Sentindo que suas forças o estavam abandonando Maroo usou um encanto e destrancou a porta. Lá dentro a princesa estava deitada em seu leito, aparentemente dormindo, ele se aproximou e, murmurando uma prece, segurou a mão direita da princesa. Nesse momento ele abriu os olhos e começou a gritar. Maroo agora tinha certeza, ele havia reconhecido os símbolos gravados no anel e se repreendeu por não ter verificado os presentes dos noivos. Ele avançou para junto da princesa, que correu para a sacada da torre onde ficava seu quarto. Maroo agora fraquejava, mas já sabia o que fazer, ele fez uma ultima prece e se jogou sobre a princesa derrubando-a caindo com ela. durante a queda ele concluiu a prece, assim eles nunca tocaram o chão e o reino inteiro parou, quase para sempre.

Maroo sabia que nunca conseguiria tirar o anel da princesa, então ele fez uma prece aos deuses, que o atenderam, assim o grande reino de Tarek e a cidade de prata foram escondidos do mundo por uma montanha, erguida pelos deuses, e dentro do reino toda a vida ficaria adormecida, e as almas de todos que caíram permaneceriam presas lá, até que alguém viesse de fora e quebrasse a maldição do anel, que continuaria na mão da princesa. Os deuses permitiram que o espírito de Maroo vagasse pelo mundo, procurando por alguém que fosse capaz de libertar seu reino. Fora do reino os povos se esqueceram de tarek e as historias sobre o antigo reino onde os palácios eram de prata e havia fartura por todo o ano, onde todos eram felizes, se tornou uma lenda contada as crianças.

6 de mai. de 2008

Rainha Merah

Havia nas terras do sul, no limite da terra do fogo, onde existem três grandes montanhas, idênticas no tamanho e na forma e restam apenas ruínas e matas, um reino muito próspero, chamado de Garanteh. Por vários séculos o povo desse reino viveu com prosperidade, e seus reis foram grandes e poderosos.

Aconteceu que no último período da era de Sanus, viveu um rei, chamado Sofieri, filho de Bafieri, e que viria ser o ultimo rei de Garanteh.

Como Bafieri havia morrido quando Sofieri ainda era apenas uma criança, ele teve, desde muito jovem, que cuidar dos assuntos do reino, e enquanto sua juventude passava ele nunca conheceu mulher alguma.

Assim muitos anos se passaram, até que se completou o Jubileu de seu reinado, seus conselheiros, então, começaram a se preocupar, pois o rei estava ficando velho e não possuía nenhum herdeiro, resolveram então que deveriam conseguir uma noiva para seu rei...


A muito tempo houve uma guerra entre Garanteh e o reino vizinho de Gall, onde Garanteh saiu vitorioso, a custas de muitas vidas do povo de Gall, inclusive dos três filhos de Barael, rei de gall. e o próprio rei fora capturado, humilhado e, por fim, condenado a morte. No dia de sua execução, ao subir no cadafalso, Barael gritou para Aranel, rei de Garanteh:__ meu povo foi massacrado, meus filhos foram mortos traiçoeiramente, e eu descendente do grande Marc'nael, fui humilhado e condenado a uma morte desonrosa, apenas devido ao ganância de um bárbaro, que se diz rei. pois eu te amaldiçoo e juro no momento da minha morte que uma filha de Gall vingará essa humilhação, e destruíra para sempre seu maldito reino. Então Barael se calou e o carrasco executou seu serviço.

Antes de ser capturado, porem, Barael havia enviado ate Lao's, sua única filha, que era ainda um bebe, e com ela alguns de seus tesouros, incluindo o anel de Nigel.

Muitos anos depois do fim da guerra, quando Aranel ja havia morrido, a princesa voltou ao seu reino onde, graças aos seus tesouros e sua beleza, se casou, e teve uma filha, a quem passou os tesouros de Gall, que seu pai lhe havia confiado. E assim se passaram varias gerações, e sempre de filha em filha, os tesouros foram guardados, pois nunca nasceu, após a morte dos três irmãos, um descendente homem dos reis de Gall.


...Séculos se passaram e a promessa de Aranel foi esquecida, assim foi escolhida para noiva de Sofieri uma nobre de uma das províncias do reino, que vinha de uma família muito antiga. Ela se chamava Merah.

Nenhum dos dois sabia da maldição, e embora, Sofiere fosse muito mais velho que Merah, eles se amavam, e ela deu a luz três meninas, gêmeas. Durante muito tempo eles viveram felizes.

Quando as meninas completaram dez anos receberam de sua mãe os tesouros de sua família. Um dia Marea, a que havia nascido primeiro das três meninas, brincava no templo do rei quando um dos sacerdotes a encontrou e a repreendeu, pegou em sua mão para leva-la para fora, quando reparou no anel, e reconheceu os símbolos do antigo reino de Gall, ele perguntou a ela onde havia conseguido aquele anel e ela lhe respondeu que havia sido um presente de sua mãe, ele então foi ate a rainha e disse:__Nobre rainha, notei que a mais velhas das princesas leva nas mãos um anel, me seria dado saber onde Vs majestade o conseguiu. A rainha, sem saber o motivo daquela pergunta, respondeu que era uma antiga herança de família, que era passada sempre a filha mais velha.

O sacerdote entendeu o significado daquele anel e foi procurar o rei, e lhe contou sobre a historia da antiga guerra e sobre a maldição, e contou que a rainha era a filha de Gall, assim como as suas três filhas também se tornaram. Disse ao rei que elas deveriam ser mortas, para assim livrar o reino da maldição para sempre. O rei, que amava profundamente sou esposa e suas filhas, e não queria acreditar naquelas palavras, ordenou aos berros que o sacerdote saísse de sua frente. Mas ele não teve coragem de falar com Merah, e por um mês não permitiu que ela o visse ou lhe falasse. Passadas duas luas ele, então, perguntou ao sumo sacerdote, o que deveria ser feito. Cainan, que era como se chamava o sacerdote, respondeu que o único meio de evitar que a maldição destruísse o reino seria matar a rainha e suas filhas. Sifieri, que amava seu pais e seu povo, acreditou naquelas palavras, e acreditando que era a única solução e sentindo em seu peito uma dor como jamais alguém sentiria, aceitou esse destino. Com lágrimas nos olhos ele ordenou que chamassem as amas de suas filhas e que elas lavassem as crianças para o campo, e soldados deveriam segui-las e mata-las. E assim foi feito. Ele então mandou que trouxessem Merah. Quando chegou até ele, arrastada pelos guardas, ela chorou e caiu a seus pés, sem entender porque recebia aquele tratamento, ela que sempre havia sido uma boa esposa e que lhe dera três lindas filhas. E ele nao teve coragem de olhar em seus olhos. Ela perguntou por que seu rei lhe fazia aquilo, se ela o havia traído ou feito algo que o desagradasse e não entendia porque seu marido não lhe olhava nos olhos. E o rei não conseguia responder, e então quem respondeu foi o conselheiro, ele contou a história e o que deveria ser feito, ela olhou para o rei a compreendeu o porque daquele tratamento, e que suas filhas deveriam estar mortas. Ela então, tomada pela dor, que só uma mãe e capaz de sentir, começou a gritar:__Por que fizeste isso a quem tanto te amava, acreditou nas palavras desses brutos e abandonaste a tua família, por causa de uma velha lenda mataste as tuas próprias filhas e matará a tua esposa, mas que assim seja, mate-me, pois agora não tenho mais motivos para viver, mas minha morte nem a de minhas filhas será esquecida e nem serão em vão, pois o crime que cometeste foi horrível e é imperdoável, com certeza os Deuses o punirão, eu invoco a maldição de meu antepassado. Que a desgraça caia sobre todo esse reino, e sobre esse rei que não soube reconhecer o amor, que a morte chegue a todos que aqui vivem e que nunca mais niguém viva nessa terra maldita. O rei que não aguentava mais ouvir aquelas palavras, que lhe causavam ainda mais sofrimento e remorso pelo que havia feito e pelo que ainda precisava fazer, fez um sinal aos guardas, que levaram Merah, que ainda chorava desesperada a perda das filhas, então a mataram e jogaram seu corpo no posso negro, o destino dos corpos de todos inimigos do reino, onde Aranel também descansava.

Os soldados que haviam matado as crianças tiraram suas jóias e enterraram seus corpos no campo, sob a copa de um grande carvalho. Levaram então os tesouros, incluindo o anel, até o castelo e os entregaram ao sacerdote que guardou os tesouros da rainha Merah no templo, para proteger o reino da maldição.

O que os sacerdotes não sabiam era que o amor de Merah era mais forte que a antiga maldição e que nunca ela seria realizada, mas quando o rei escolheu entre as palavras de seus sacerdotes ao amor de sua esposa e suas filhas ele havia condenado todo o seu reino.

Aqueles que vivem nos Céus escutaram as palavras da rainha, e ficaram furiosos com a dureza do rei, então o Deus da vingança voltou seus olhos para Garanteh. Quando o anel foi colocado no altar o céu imediatamente se tornou negro, e por uma semana o sol não brilhou e vieram as tempestades e o granizo, que destruíam as plantação e feriam os animais, chegou a miséria e a fome que desolaram todo o reino e enfraqueceram o espírito dos homens, que começaram a roubar e a se matar pela pouca comida que restava, veio então a peste, que levou os jovens e os velhos, os homens e as mulheres, os animais selvagens e os dos campos,e em pouco tempo o grande reino de Garanteh foi levado a ruína e reduzido as cinzas.

Bafiere que compreendeu, assim que os desastres começaram, qual era o motivo expulsou todos de seu castelo e permaneceu sentado em seu trono, com o antigo anel em suas mãos, sem comer ou beber nada por dias, até que a morte o encontrou e com ele morreu o reino de Garanteh. E as grandes cidades se tornaram ruínas e os campos tão férteis foram tomados pelas florestas e os Deuses ergueram então três montanhas, idênticas, no lugar onde as meninas foram enterradas, para glorificar a vida das três inocentes, que haviam sido mortas devido a maldade dos homens, e para lembrar o todos, que de onde fosse possível ver aquelas montanhas homem algum deveria viver.

22 de abr. de 2008

Contos da Angara

Contos de Angara são, ou melhor serão, parte de uma história que me propus a contar. Na ideia original eu pretendia contar apenas a História de Ephi, um garoto que saia em busca de um dragão, mas conforme o tempo passava fui criando mais personagens e a história foi se modificando e ficando mais complexa.
A primeira vez em que pensei em escrever essa história foi há nove anos, desde de então muita coisa aconteceu e eu não pude me dedicar a ela com a vontade que eu queria, mas a partir de agora vou trabalhar o máximo possível e pretendo postar sempre trechos aqui.
Espero que quem ler as histórias goste delas, mas caso não gostem postem comentários dizendo o que não gostaram.
Muito obrigado e até mais.